Antes de chegar propriamente à ilha Brava, pode-se vislumbrar a partir do Barco a Aldeia das Furnas, uma das mais importantes povoações da Ilha, a porta de entrada onde se encontra situado o Porto da ilha. (...) é uma da tarde de 6ª Feira, 16 de Maio, ou seja, dia do encerramento da campanha para as autárquicas e lá estávamos nós a fazer algo realmente digno de eleição - uma visita à ilha das Flores!
Na aldeia das Furnas somos transportados até a Vila Nova Sintra, a Capital da Ilha.
Dada a configuração em forma de cogumelo a ilha Brava dispõe de um relevo bastante acidentado. A estrada que vai das Furnas à Vila Nova Sintra, situada num Planalto num ponto mais alto da ilha, caracteriza-se por uma sucessão de Curvas e Contracurvas. Os Bravenses descrevem orgulhosamente essa estrada como a “Estrada das 99 curvas”.
Chegados à Vila Nova Sintra deparamos com um dos sítios mais bonitos de Cabo Verde. Ruas estreitas, passeios ornamentados, embelezados pelas árvores que, inclinadas, formam uma espécie de cobertura na rua principal da capital da ilha das Flores.
Após a chegada fomos à casa do Sr. Paulo, proprietário de uma pensão com o seu nome. À entrada adivinha-se uma casa bem decorada com vários objectos e mobiliário antigos. À Direita um restaurante de características familiares. O Sr. Paulo mostrou-me o seu quintal com uma plantação pela qual, através do sistema de rega Gota-a-gota produz variados legumes que são consumidos na sua casa e no seu restaurante.
Um pouco mais acima deparamos com a casa onde viveu uma das figuras mais emblemáticas que Cabo Verde já conheceu – Eugénio Tavares. Uma estátua em gesso com um dos seus poemas dedicada à sua ilha natal instalada na pequena praça ao lado da casa, completa este cenário inspirador. À frente um canteiro de flores em forma de um violão, quiçá aquele que compôs muitas das mais belas mornas hoje eternizadas pelo Bana, Ildo Lobo, Cesária Évora, etc…
Um facto curioso, para além da guitarra portuguesa, dos potes de barro e outras peças antigas, é o facto de encontrarmos em cima da mesa da sala uma miniatura feita em madeira do navio Ernestina, uma homenagem aos nossos emigrantes.
Percorrendo mais uma vez as estreitas ruelas de Nova Sintra, mergulhando na multidão que se esforçava para seguir o ritmo quente da festa proporcionada pela campanha eleitoral, seguimos caminho até Fajã d’Água onde iríamos encontrar o Sr. José Andrade, proprietário da Pensão Sol na Baía, um recanto inspirador e uma fonte de encanto.
À saída de Vila Nova Sintra num ponto mais acima, encontramos um miradouro a partir do qual, dispomos de uma vista panorâmica da capital da Brava. Esse lugar convida-nos a sonhar, entre os sucessivos disparos da câmara fotográfica – entre a angústia de no dia seguinte termos de partir – sentindo a frescura do ar e as nuvens mergulhando nas artérias da Vila à nossa frente num rodopio, numa dança, quase que num ensaio do ritual de Kolá São João do dia 24 de Junho próximo, para não falar da chantagem constante do seu avanço obrigando-nos a mendigar um recuo ligeiro para um último disparo.
Ao avistar a Baía de Fajã d’Água, uma sensação de paz e tranquilidade nos invade – sem sombras de dúvidas, uma das mais bonitas Baías de Cabo Verde.
À entrada, passamos por uma capela construída em homenagem aos emigrantes que morreram em 1943, durante o naufrágio do navio Matilde, à caminho dos Estados Unidos da América.
Mais á frente, um pequeno grupo de casas percorrem a estrada que vai dar à uma bela Piscina Natural e à pista onde se situava o antigo aeroporto da ilha.
Mais ao cimo, um trilho inclinado percorrendo uma grande ribeira coberta de vegetação (cana-de-açúcar, bananeiras, coqueiros, e girassóis, muitos girassóis) dá acesso à montanha e à um dos pontos mais altos da ilha – Nossa Senhora do Monte. Esse trilho representa uma das caminhadas mais frequentes e preferidos pelos visitantes e que o Sr. José Andrade, o guia e também proprietário da Pensão Sol na Baía, aconselha a cada novo cliente.
A Pensão Sol na Baía, afigura-se como uma das mais emblemáticas unidades de alojamento da ilha Brava. O Sr. José Andrade, um fabuloso artista plástico recebe-nos com um sorriso contagiante e muito acolhedor.
A casa, rebuscando uma arquitectura importada da França onde o Sr. José viveu desde os 11 anos de idade, o pátio, os quartos, o jardim imenso e a grande plantação, convidam-nos à uma estadia agradável e em constante contacto com a Natureza.
Para além das bananeiras, papaieiras, coqueiros, feijoal, Milheiral, Tomates, Batatas, Cebolas, etc., fomos descobrir no meio da plantação ao redor da casa um trapiche moderno de produção de Grogue, não o de Santo Antão, mas o Grogue de Fajã d’Água.
Conforme indicação do seu produtor, só após uma degustação conseguimos perceber a razão pela qual o Sr. José Andrade vende cada litro de Grogue de Fajã d’Água por 2000$00. Pela visita e explicação, é um grogue produzido somente com a Cana-de-açúcar sem preocupações com a produção em grandes quantidades. Para o mesmo, a qualidade é algo que se compra, por isso interessa-lhe mais produzir e vender a Cana-de-açúcar transformada num produto de Qualidade, com objectivos mais arrojados ainda, isto é, proteger a sua marca e futuramente atingir o preço de uma Garrafa de Whisky para o seu grogue.
Após essa recepção calorosa e deste momento inolvidável, e apesar da ameaça do horizonte em se fazer escuro, seguimos caminho em direcção à Vila Nova Sintra para fazermos um desvio para a localidade de Nossa Senhora do Monte. A localidade de Nª Sra do Monte é uma das zonas mais altas da ilha, com uma organização arquitectónica bastante peculiar. Como em toda a ilha, as casas obedecem ao mesmo estilo arquitectónico e estão dispostas em fila percorrendo a estrada principal. Na parte mais alta da localidade, foi construído pelos emigrantes amigos da Brava nos Estados Unidos da América, um edifício imponente que serve de apoio à comunidade no domínio do acolhimento e da formação das crianças e dos jovens.
Seguindo em frente, avistamos a zona piscatória de Tantum, antes de atingir a distante localidade de Cachaço. O queijo de cabra dessa zona é um dos produtos típicos que a Brava tem de excelência.
Já ao anoitecer a volta para a Vila Nova Sintra fez-se pelo mesmo trajecto. A essa altura, sendo o início do fim-de-semana, encontramos já as ruas da Bila com alguma vivacidade. Pode-se beber uma cerveja fresca na Esplanada da praça Principal ou um Ponche na Casa Mansa ao lado da Praça. Passamos pela Discoteca “Cananga do Japão”, que se encontrava ocupado com uma festa particular “Sô pa cunvidaduz”.. Em termos de vida nocturna, na Bila fica-se mesmo pelo passeio pelas ornamentadas e bem organizadas ruas, pela praça principal seguida de uma cerveja, ou um ponche para os menos habituados à temperatura mais fresca vigente na ilha das Flores.
(...) são sete horas da manhã, o Barco parte às oito. Uma sensação de perda, uma nostalgia, a ansiedade do próximo encontro!